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Acordei de madrugada, devido ao jet lag. O meu corpo estava dorido, por não ter adormecido na posição mais correcta e os meus olhos inchados, devido às lágrimas que por eles caiam.
Abri o armário e tirei de lá umas pontas velhas, que tinha deixado em Portugal. Sem tirar o pijama, calcei-as, sem pôr qualquer tipo de protecções, calçando apenas umas meias de vidro.
Pus os phones do iPod nos ouvidos e, agarrando-me à minha cómoda, que tinha mais ou menos a altura de uma barra.
Comecei a fazer exercícios básicos, sem pensar muito no que estava a fazer.
Passaram-se horas e vi o sol nascer pela janela do meu quarto. Estava tão empenhada em fazer a minha mente vaguear para cenários improváveis, que apenas, quando a manhã nasceu por completa é que notei na dor latejante que provinha dos meus pés.
Sentei-me na cama e reparei que estava completamente suada. Tentei tirar as pontas, porém, quando o comecei a fazer a dor que daí proveu era tão insuportável, que tive a vontade de gritar.
Acabei por conseguir tirá-las, a muito custo. Quando olhei para os meus pés, vi que estavam tingidos de vermelho. A dor agoniante devia-se às feridas que por eles estavam espalhadas. Tinha-me esquecido de pôr as protecções de silicone, nos dedos e eles agora jorravam sangue.
Cobri com pensos todas as feridas e, quando finalmente acabei, Mariana irrompeu pela porta o meu quarto.
-O que é que se passou com os teu pés? – Perguntou a minha irmã, quando olhou para eles com os pensos, já tingidos de um vermelho escuro.
- Estive a fazer pontas e esqueci-me de pôr as protecções.
- Autch! Estás a tornar-te masoquista?
- Não sejas parva! Nunca te esqueceste de nada?! – Perguntei, exaltando a minha voz.
- Dali, tens de te acalmar!
- Argh! Que nervos! – Exclamei atirando aquelas pontas velhas para o lixo. – Não consegui dormir nada, a pensar nele. E depois magoei os pés todos e nem se quer senti! Mariana! Eu nem se quer consegui sentir a dor, por estar a pensar nele!
- O que é que queres que faça? – Perguntou com um tom complacente, sentando-se ao meeu lado.
- Preciso de sair daqui! Preciso de mudar alguma coisa!
- Tenho a solução perfeita para ti!
Depois do almoço, pegámos no carro e fomos até ao centro comercial. Mariana conduziu-me até a um cabeleireiro e entrámos, sentando-nos no pequeno sofá, à espera.
- O que é que estamos aqui a fazer? – Perguntei.
- Disseste que precisavas de mudar, por isso, é isso que vamos fazer.
- Vamos?
- Não confias em mim?
- Vais mesmo falar em confiança?
- Esquece.
Uma rapariga que aparentava ter, mais ou menos, a minha idade foi ter connosco.
- Então vieram cortar o cabelo? – Perguntou a jovem rapariga com um sorriso.
- Cortar e pintar – assentiu Mariana.
- Mariana, eu não vou pintar o cabelo – murmurei para ela.
- Tu é que disseste que querias mudar.
Contra a minha vontade, acabei por fazer a vontade a Mariana. Pelo menos que alguém ficasse feliz.
Pintei-o de louro. Muito louro, porém não o cortou muito. Apenas as pontas estragadas e partidas.
Quando chagámos a casa uma jorrada de perguntas caíram-nos em cima (é de mencionar que o cabelo da Mariana ficou igual ao meu).
Subi ao quarto e liguei o portátil. Fui ao meu e-mail e assim que o abri havia um aviso que dizia que possuía mais de cem mensagens, por ler.
Para espanto meu, ou não, todas elas pertenciam a Parker.
Abri a primeira. Tudo o que li foi uma mensagem pirosa e um pedido de desculpas e nada mais. Mentiras, um monte de mentiras.
Os dias foram passando e o dia de Natal, tal como veio, foi. A casa encheu-se de gente familiar e foi agradável, como todos os anos.
Todos os dias a minha caixa de correio se enchia de mensagens electrónicas. O telemóvel, desse já eu tinha o tinha desligado da quantidade de mensagens e chamadas por atender que possuía.
De repente, a véspera de ano novo estava aqui e toda a minha família ia sair, para sítios distintos.
Eram nove da noite quando Mariana entrou no meu quarto.
- Vamos sair?
- Não me apetece… - Disse espreguiçando-me.
- Vá lá!
- Por favor!
- Queres mesmo ficar cá, a ver programas ridículos dos canais públicos?
- Não podia soar melhor.
- Sabes que não te vou deixar sozinha.
- Gosto muito de ti, Marianinha.
- Numa escala de um a dez, quanto é que te apetece apanhar uma bebedeira?
- Um vinte! Se bem que bebermos, enquanto estamos em casa sozinhas, à espera que o ano mude, me parece muito triste!
- Então beberemos à tristeza!
- À tristeza que seja!
Era já uma e meia, quando olhámos para o relógio e vimos que o ano tinha mudado. Era bastante claro, que já não estávamos de plena consciência. Ficámos no meu quarto, celebrando com Alex, o novo ano.
- Se soubesses a quantidade de e-mails que tenho dele, no meu computador passavas-te. – Murmurei olhando para o meu portátil, que estava estendido em cima da cama.
- E só agora é que me dizes isso?!
- Porque é que haveria de te dizer?
- Vamos vê-los!
- Mariana não! - Gritei, correndo para o computador.
No entanto, ela chegou primeiro, apanhando-o e puxando-o para o seu colo.
Ligou-o e rapidamente acedeu ao meu e-mail, que já estava aberto.
- Estás pronta para as abrir?
- Sim, meu capitão!
Começámos a abrir as mensagens e decidimos fazer um jogo.
Por cada vez que lêssemos a palavra “desculpa”, beberíamos um shot.
Bebemos bastante vodka!
- Vamos ligar-lhe! – Gritou Mariana, de repente.
- Nem penses nisso!
- Demasiado tarde!
Quando olhei para Mariana já ela tinha o meu telemóvel na mão, a apitar, em alta-voz.
- Mariana! Não!
- Schh… Cala-te, está a tocar.
De repente, a voz dele soou do outro lado da linha.
- Olá… - disse Mariana arrastando a voz.
- Lillah! Ainda bem que consigo falar contigo. Desculpa, a sério. Podemos falar?
- Olá… - repetiu Mariana com o mesmo tom de voz.
- Lillah, estás bem?
- Olá…
- Lillah?! O que é que se passa?
- És um estúpido, sabias? – Disse Mariana, de repente, em português. – Nunca devias ter feito isto à minha irmã! Agora estás feito.
- Ly, não percebi nada daquilo que disseste.
- Olá… - Disse ela novamente, no mesmo tom.
- Lillah, estás bêbeda? – Conseguia ouvir na sua voz, que ele estava transtornado. Não me importei. Sinceramente estava a divertir-me.
- Um bocadinho. – Proferiu a minha irmã, novamente em português e a seguir desligou.
Quando acordei a minha cabeça latejava, devido à ressaca. De qualquer modo, era tempo de voltar para Nova Iorque. Teria que enfrentar a música.
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