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Capítulo 28 - Shots

por Jessie Bell, em 08.06.11

Acordei de madrugada, devido ao jet lag. O meu corpo estava dorido, por não ter adormecido na posição mais correcta e os meus olhos inchados, devido às lágrimas que por eles caiam.


Abri o armário e tirei de lá umas pontas velhas, que tinha deixado em Portugal. Sem tirar o pijama, calcei-as, sem pôr qualquer tipo de protecções, calçando apenas umas meias de vidro.


Pus os phones do iPod nos ouvidos e, agarrando-me à minha cómoda, que tinha mais ou menos a altura de uma barra.


Comecei a fazer exercícios básicos, sem pensar muito no que estava a fazer.


Passaram-se horas e vi o sol nascer pela janela do meu quarto. Estava tão empenhada em fazer a minha mente vaguear para cenários improváveis, que apenas, quando a manhã nasceu por completa é que notei na dor latejante que provinha dos meus pés.


Sentei-me na cama e reparei que estava completamente suada. Tentei tirar as pontas, porém, quando o comecei a fazer a dor que daí proveu era tão insuportável, que tive a vontade de gritar.


Acabei por conseguir tirá-las, a muito custo. Quando olhei para os meus pés, vi que estavam tingidos de vermelho. A dor agoniante devia-se às feridas que por eles estavam espalhadas. Tinha-me esquecido de pôr as protecções de silicone, nos dedos e eles agora jorravam sangue.


Cobri com pensos todas as feridas e, quando finalmente acabei, Mariana irrompeu pela porta o meu quarto.


-O que é que se passou com os teu pés? – Perguntou a minha irmã, quando olhou para eles com os pensos, já tingidos de um vermelho escuro.


- Estive a fazer pontas e esqueci-me de pôr as protecções.


- Autch! Estás a tornar-te masoquista?


- Não sejas parva! Nunca te esqueceste de nada?! – Perguntei, exaltando a minha voz.


- Dali, tens de te acalmar!


- Argh! Que nervos! – Exclamei atirando aquelas pontas velhas para o lixo. – Não consegui dormir nada, a pensar nele. E depois magoei os pés todos e nem se quer senti! Mariana! Eu nem se quer consegui sentir a dor, por estar a pensar nele!


- O que é que queres que faça? – Perguntou com um tom complacente, sentando-se ao meeu lado.


- Preciso de sair daqui! Preciso de mudar alguma coisa!


- Tenho a solução perfeita para ti!


 


Depois do almoço, pegámos no carro e fomos até ao centro comercial. Mariana conduziu-me até a um cabeleireiro e entrámos, sentando-nos no pequeno sofá, à espera.


- O que é que estamos aqui a fazer? – Perguntei.


- Disseste que precisavas de mudar, por isso, é isso que vamos fazer.


- Vamos?


- Não confias em mim?


- Vais mesmo falar em confiança?


- Esquece.


Uma rapariga que aparentava ter, mais ou menos, a minha idade foi ter connosco.


- Então vieram cortar o cabelo? – Perguntou a jovem rapariga com um sorriso.


- Cortar e pintar – assentiu Mariana.


- Mariana, eu não vou pintar o cabelo – murmurei para ela.


- Tu é que disseste que querias mudar.


Contra a minha vontade, acabei por fazer a vontade a Mariana. Pelo menos que alguém ficasse feliz.


Pintei-o de louro. Muito louro, porém não o cortou muito. Apenas as pontas estragadas e partidas.


 


Quando chagámos a casa uma jorrada de perguntas caíram-nos em cima (é de mencionar que o cabelo da Mariana ficou igual ao meu).


Subi ao quarto e liguei o portátil. Fui ao meu e-mail e assim que o abri havia um aviso que dizia que possuía mais de cem mensagens, por ler.


Para espanto meu, ou não, todas elas pertenciam a Parker.


Abri a primeira. Tudo o que li foi uma mensagem pirosa e um pedido de desculpas e nada mais. Mentiras, um monte de mentiras.


 


Os dias foram passando e o dia de Natal, tal como veio, foi. A casa encheu-se de gente familiar e foi agradável, como todos os anos.


Todos os dias a minha caixa de correio se enchia de mensagens electrónicas. O telemóvel, desse já eu tinha o tinha desligado da quantidade de mensagens e chamadas por atender que possuía.


De repente, a véspera de ano novo estava aqui e toda a minha família ia sair, para sítios distintos.


Eram nove da noite quando Mariana entrou no meu quarto.


- Vamos sair?


- Não me apetece… - Disse espreguiçando-me.


- Vá lá!


- Por favor!


- Queres mesmo ficar cá, a ver programas ridículos dos canais públicos?


- Não podia soar melhor.


- Sabes que não te vou deixar sozinha.


- Gosto muito de ti, Marianinha.


- Numa escala de um a dez, quanto é que te apetece apanhar uma bebedeira?


 - Um vinte! Se bem que bebermos, enquanto estamos em casa sozinhas, à espera que o ano mude, me parece muito triste!


- Então beberemos à tristeza!


- À tristeza que seja!


Era já uma e meia, quando olhámos para o relógio e vimos que o ano tinha mudado. Era bastante claro, que já não estávamos de plena consciência. Ficámos no meu quarto, celebrando com Alex, o novo ano.


- Se soubesses a quantidade de e-mails que  tenho dele, no meu computador passavas-te. – Murmurei olhando para o meu portátil, que estava estendido em cima da cama.


- E só agora é que me dizes isso?!


­- Porque é que haveria de te dizer?


- Vamos vê-los!


- Mariana não! - Gritei, correndo para o computador.


No entanto, ela chegou primeiro, apanhando-o e puxando-o para o seu colo.


Ligou-o e rapidamente acedeu ao meu e-mail, que já estava aberto.


- Estás pronta para as abrir?


- Sim, meu capitão!


Começámos a abrir as mensagens e decidimos fazer um jogo.


Por cada vez que lêssemos a palavra “desculpa”, beberíamos um shot.


Bebemos bastante vodka!


- Vamos ligar-lhe! – Gritou Mariana, de repente.


- Nem penses nisso!


- Demasiado tarde!


Quando olhei para Mariana já ela tinha o meu telemóvel na mão, a apitar, em alta-voz.


- Mariana! Não!


- Schh… Cala-te, está a tocar.


De repente, a voz dele soou do outro lado da linha.


- Olá… - disse Mariana arrastando a voz.


- Lillah! Ainda bem que consigo falar contigo. Desculpa, a sério. Podemos falar?


- Olá… - repetiu Mariana com o mesmo tom de voz.


- Lillah, estás bem?


- Olá…


- Lillah?! O que é que se passa?
- És um estúpido, sabias? – Disse Mariana, de repente, em português. – Nunca devias ter feito isto à minha irmã! Agora estás feito.


- Ly, não percebi nada daquilo que disseste.


- Olá… - Disse ela novamente, no mesmo tom.


- Lillah, estás bêbeda? – Conseguia ouvir na sua voz, que ele estava transtornado. Não me importei. Sinceramente estava a divertir-me.


- Um bocadinho. – Proferiu a minha irmã, novamente em português e a seguir desligou.


 


Quando acordei a minha cabeça latejava, devido à ressaca. De qualquer modo, era tempo de voltar para Nova Iorque. Teria que enfrentar a música.


 


 

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publicado às 17:53


1 comentário

De Marta a 08.06.2011 às 19:01

Os olás da Mariana foram como aqueles teus fantásticos ólás arrastados e assustadores?
É que se foram começo a ter pena do Parker.

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