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Capítulo 21- Lauren

por Jessie Bell, em 19.05.11

Acordei com um ecoar de vozes no andar de baixo. Olhei à minha volta e vi que estava de novo no quarto de Parker.


 Eles tinham chegado. Senti o meu coração a bater descompassado. Aquela situação não me agradava de todo.


Abanei Parker para o fazer acordar do sono profundo em que tinha mergulhado. Após alguns resmungos, abriu os olhos.


- Parker, acorda. Ou a tua família chegou, ou estão a assaltar a casa.


- Achas que é preciso levar um taco de basebol para ir ver? – Perguntou com um revitalizante sorriso matinal.


- Não. Limita-te a ir – disse correspondendo com um sorriso.


Parker arrastou-se da cama e, após se ter arranjado, abandonou o quarto, dizendo:


-Se alguém te perguntar, tu não dormiste aqui. Já venho ter contigo. – Assenti com a cabeça.


Também eu arrastei-me da cama, em direcção à mala que tinha trazido de Nova Iorque. Fui à janela para analisar as condições do tempo. Porém, deparei-me com algo muito mais interessante que algumas nuvens: a grande família Halle… Estavam no alpendre da casa cumprimentando Parker amigavelmente. Pareciam… bem, pareciam uma família. Consegui reconhecê-los. O primeiro que vi foi Michael, que não estava com um ar muito feliz. Depois, focalizei-me numa outra figura: Um homem de meia-idade que era a cara chapada de Parker. Usava um casaco tweed e umas calças beges. Deduzi que fosse o seu pai.


Reconheci também a sua mãe. Uma mulher, magra e alta que sustentava um porte delicado e elegante. Nada tinha a ver com Parker, tinha os cabelos escuros e compridos e uma cara cansada, acima de tudo. Alex era como um Mike mais novo. O mesmo tipo de massa muscular, o mesmo tipo de cabelo e uma cara parecidíssima, com a do irmão. Vi Louise, uma rapariga bem constituída e que não se assemelhava em nada a nenhum dos progenitores. Tinha o cabelo comprido e ruivo, mas acima de tudo, tinha um ar verdadeiramente feliz. De repente, com um rápido desvio de olhar, vi a quem Louise tinha ido buscar as características, à sua avó. Elas eram iguais, porém, numa viam-se sessenta anos marcados na pele. O avô de Parker tinha o mesmo cabelo que a mãe de Park. Um rosto duro e cansado e trazia um bengala.


Desviei-me da janela, para não repararem em mim. Fui à mala e retirei de lá umas calças de ganga azuis escuras e justas e uma túnica verde escura, larga e de alças. Vesti a roupa, calcei as minhas all stars azuis escuras e soltei o cabelo, que estava cada vez mais comprido, acabando agora no fundo das minhas costas.


Quando acabei, Parker abriu a porta.


- Estás pronta? – Perguntou fechando a porta atrás de si.


- Fisicamente, sim. Psicologicamente, não.


- Não te preocupes Grá – garantiu-me, pondo os braços ao redor da minha cintura.


- Como é que queres que eu não me preocupe?


- Assim… - e mergulhou os seus lábios nos meus, apaixonadamente. O beijo perdurou, sustendo o fogo dentro da minha boca. Quando finalmente descolou a sua boca da minha, sorri-lhe. – Mais despreocupada?


- Sim – afirmei abraçando-o.


- Vamos – assenti.


Saímos do quarto em direcção às escadas e, antes de as descer-mos, Parker deu-me a mão e apertou-ma. Fiquei feliz por não estar um grupo de pessoas ao fundo das escadas à minha espera. Estavam espalhados pela enorme sala de estar.


Entrámos.


- Esta é a Dalillah. – A voz de Parker ecoou pela sala e entretanto 6 caras viraram-se na minha direcção estudando a minha pessoa. Senti o sangue aflorar-me à cara e tive um impulso de fugir dali. Tentei-me concentrar na única cara familiar que encontrei, no meio daqueles olhares penetrantes, o de Mike. Porém, este estava com uma expressão de triteza, algo que nunca antes tinha visto.


- Olá – acabei por dizer.


- Lillah, esta é a minha avó, o meu avô, o meu pai, os meus irmãos mais novos, Alex e Louise. – Cumprimentei-os a todos, um por um. – Onde é que está a mãe?


- A tua mãe está na cozinha a adiantar sobremesas para quinta-feira – respondeu a avó de Parker.


- Já?! - Perguntou levantando uma sobrancelha. – Vamos ter com ela.


Segui-o até à grande cozinha. Quando entrei, vi a mesma mulher esguia que havia visto pela janela.


- Mãe, esta é a Dalillah.


De repente, a cara daquela mulher iluminou-se, o que me reconfortou. Esboçou-me um enorme sorriso e proferiu:


- Olá! – Exclamou agarrando as minhas mãos. – Finalmente conheço-te, após ouvir tanta coisa sobre ti. Filho, não lhe fizeste justiça. – Olhei para Parker e viu-o revirar os olhos. Porém, não fui a única a reparar na expressão de Parker: - Parker Mortimer, não sejas assim.


- Mãe… O que é que se passa com o Mike?


- O teu irmão está-se a preparar para fazer uma pergunta ao teu pai, para a qual já sabe qual é que vai ser a resposta.


- Lauren? – A mãe de Parker abanou a cabeça afirmativamente. – Eu vou falar com ele…


-Ficas aqui? – Perguntou virando-se para mim.


- Sim, claro – e dito isso, Parker abandonou a cozinha, em direcção à sala.


- Então, o Parker disse-me que danças – disse Mrs. Halle, após alguns minutos de silêncio.


- Sim… Eu faço par com Mike, na P.A.


- Oh, sim claro. Que cabeça a minha…


- Precisa de ajuda? – Perguntei ao olhar para a taça que ela mexia com veemência.


- Não obrigada, querida.


- Parker também me disse que você dançava.


- Sim… Mas agora já não. O problema desta profissão é que dura demasiado pouco tempo.


- O que é que fazia? Ballet?


- Sim, claro. Eu sei que vocês agora são muito mais dados à dança contemporânea, mas o ballet será sempre ballet. ´


- Não sei, nunca me preocupei muito com os diferentes estilos de dança, talvez pelo simples facto de já ter aprendido tantos. Mas sim, a dança contemporânea é um dos meus estilos favoritos.


- Mas tens formação clássica, não tens?


- Quinze anos de ballet, oito de contemporânea.


- Impressionante… Quando é que começaste a fazer pontas?


- Quando tinha nove anos, acho eu…


- Gostaria de te ver dançar um dia.


- Um dia…


 


Era uma hora, quando começámos a almoçar e a expressão de Mike mantinha-se. Queria questionar Parker sobre o que se passava. Quem era a Lauren?


- Pai… preciso de falar contigo. – Começou Mike, após umas palavras mal trocadas com o resto da família.


- Diz- disse Mr. Halle com um tom de voz frio.


- A Lauren pode vir cá jantar na quinta-feira?


 


- Michael como é que te atreves a perguntar-me algo do género?


- Pai, por amor a Deus…


- Por amor a Deus, nada. Nem penses que aquela galdéria entra nesta casa.


- Galdéria?! – Vi a cólera nascer por debaixo dos olhos escuros de Mike e, pela primeira vez, vi nele uma expressão que nunca antes lhe tinha visto.


- Pai estás a exagerar. – Disse Parker, numa tentativa frustrada de quebrar a tensão.


- Não! E tu nem penses em juntar-te ao teu irmão nisto. Sabes perfeitamente que eu nunca concordei com isto.- Galdéria?! – Vi a cólera nascer por debaixo dos olhos escuros de Mike e, pela primeira vez, vi nele uma expressão que nunca antes lhe tinha visto.


- Pai estás a exagerar. – Disse Parker, numa tentativa frustrada de quebrar a tensão.


- Não! E tu nem penses em juntar-te ao teu irmão nisto. Sabes perfeitamente que eu nunca concordei com isto.


- Pai se ela não janta cá, eu também não! – Ameaçou Michael.


- É que nem penses nisso Michael!


- E a avó, não vai dizer nada? Afinal de contas a casa é sua.


- Michael… vocês sabem que por mim podem trazer cá quem quiserem. Mas nós somos uma família e se um de nós não está de acordo, então… Lamento Mike.


- NÃO! VOCÊS SÃO LOUCOS! E eu não vou ficar aqui a ouvir isto. – E disto isso levantou-se da mesa e saiu em direcção à porta. Também Parker se levantou.


- Pai, não podias ser um bocadinho mais tolerante? Eu vou falar com ele. Podes vir comigo, por favor? – Perguntou-me.


Levantei-me sem dizer uma palavra e dirigimo-nos ao alpendre, onde Michael se encontrava.


- Michael… - Começou Parker.


- Não! Eu não quero ouvir nada disto! Nem sei o que é que ainda estou aqui a fazer. Vou ter com ela.


- Não. – Michael olhou para o seu irmão com um olhar de pura agonia. – Ok! Mas nós vamos contigo! Vou buscar as chaves e tentar acalmar o pai, pode ser?


- Obrigado – acabou por dizer.


Parker entrou de novo na grande casa branca, deixando-me a mim e a Michael sozinhos.


- Então, alguém me vai dizer quem é a Lauren?


- A Lauren é a minha namorada…


- E…? Eu estou aqui e sou a namorada de Parker.


- A Lauren é a minha namorada de trinta e um anos. – Tentei não parecer muito afrontada com a ideia, mas era uma tarefa difícil. – O meu pai odeia-a.


- Porquê?


- Porque não concorda, porque acha que é indecente, porque pensa que toda a gente deve viver pelos seus próprios padrões.


- Há quanto tempo é que namoram?


- Há quatro anos. Eu só a vejo nas férias e sempre que venho cá, o meu pai faz uma cena. É sempre o mesmo. O pior é que mais ninguém da minha família se importa, só ele. Ele devia entender que eu não tenho dezasseis anos.


- É difícil? Viver tanto tempo sem a pessoa de quem tu gostas?


- É. É a coisa mais difícil que já alguma vez fiz…


- Já alguma vez a traíste?


- Infelizmente…


- Ela sabe?


- Sabe, é claro que sabe. E ela já fez o mesmo. Eu podia dizer que a diferença de idades não é uma barreira, mas a verdade é que é.


- Mas vocês continuam juntos. Vocês perdoaram-se.


- Pois perdoámo-nos. Perdoámo-nos porque nos amamos e o incompreensível do meu pai não o vê. Ele consegue ser tão cego.


Quando Michael acabou de falar, Parker saiu da casa.


- Vamos? – E sem mais uma palavra, fomos para o jipe, para irmos ter com a causadora de tantos problemas, Lauren.

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publicado às 10:12


1 comentário

De Rita a 20.05.2011 às 15:58

Adoro! <3 espero que a lauren seja boa pessoa xD

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