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Acordei sobressaltada, pelo facto de não ter acordado com o som do despertador. Até que me lembrei que era o meu dia de descanso mensal. A única semana em que não tinha de trabalhar 6 dias por semana. Por isso, deixei-me levar pelo quentinho do meu ninho de cobertores, e pela sensação de ronronar que o meu corpo produzia pelo simples facto de ter atingido um momento de perfeição.
Olhei pelo canto do olho esperando ver Parker, deitado ao meu lado, no entanto tudo o que eu vi foi um bilhete. Abriu-o e li, numa caligrafia rude:
“Lillah,
Soube que hoje era o teu dia de descanso e não te quis acordar. Hoje tenho ensaios, por isso só chego às dez e meia. Tem um bom dia.
P.S.: O meu telemóvel ficou sem bateria.
Amo-te muito, beijos:
Parker”
Espreguicei-me e arrastei o meu rabo da cama. Tinha planos de arrumar o meu roupeiro. Tarefa que não tinha completado, desde o dia em que cheguei. Assim, deitei mão à obra. Estava a aproveitar este meu bocadinho de céu. Desta sensação de que tinha atingido o auge. Quando acabei de organizar o caos que era o meu roupeiro. Dirigi-me ao computador para ver se caçava algum dos meus irmãos. O que não aconteceu. O que aconteceu foi que recebi a notícia mais devastadora de sempre. Era um e-mail de Ricardo, que tinha recebido na noite passada. Dizia:
“Dalillah,
A Mariana está no hospital. Ela está doente e precisa de ti. Precisamos de ti aqui. Precisamos que a salves. Quando leres isto, telefona-me imediatamente.”
O meu mundo arruinou-se, ali naquele preciso momento. Uma parte de mim morreu. Levantei-me num salto e peguei no telemóvel. Percorri a lista dos contactos até encontrar o número do meu irmão mais velho e liguei. Passados seis segundos ouvi a voz dele na outra linha:
- Lillah! Diz-me que já estás a vir.
- Ricardo o que é que se passa?
- Por favor vem. Não te consigo explicar por telefone.
- Ricardo. O que é que se passa? Estás a assustar-me. Eu não sei se consigo um bilhete de avião para o Porto hoje.
- Isso já está tratado. O bilhete já está reservado. É só levantá-lo no aeroporto. Depois diz-me a que horas chegas. Eu ou os pais vamos te buscar. Por favor vem. Ela vai morrer, senão vieres. – Desligou e eu não pensei duas vezes. Fui buscar a Amal e esvaziei o meu quarto sem pensar duas vezes. Não sabia se ia voltar. Não sabia nada. A mala ficou cheia e o quarto vazio.
Dirigi-me ao quarto de Mike e Parker. Sentei-me na cama dele, tirei uma folha da escrivaninha que ali estava e com um lápis escrevi:
“Parker,
Tive de voltar para Portugal. Não sei se vou voltar. Desculpa. Nunca me esquecerei de ti.”
Chamei um táxi e fui para o aeroporto. O voo era às 23h da noite. Ia chegar às nove, hora de Portugal. Já estava à espera que a porta de embarque abrisse, quando ele chegou. Levantei-me.
- Dalillah, que porcaria é esta? – O seu rosto demonstrava uma raiva profunda.
- Tenho de ir. – Disse. Olhei para ele e vi a sua cólera transformar-se em tristeza.
- Ly! Por favor, não vás. Tu disseste que não te ias embora se eu não fosse. Eu não estou a ir a lado nenhum.
- Parker! Eu não sei o que se passa. Mas sei que se não me ponho naquele avião e se a minha irmã morre por causa disto. Eu não me perdoarei e também não te perdoarei.
- Lillah, tu podes estar a abdicar do teu futuro por algo que não sabes o que é. Pára, espera e volta a telefonar ao teu irmão.
- Não percebes o que é que me estás a pedir? E se pudesses ter salvo o Jordan? A minha irmã pode me ter magoado muito. Mas é minha irmã e eu dava a minha vida para a salvar.
- Ly – disse puxando-me contra o seu peito, olhou-me intensamente para o meu rosto e limpou-me a lágrima que por ele escorria. – Amo-te, Dalillah Vanbeveroun.
Parti. Parti sem olhar para trás, sem olhar para ele. Para fazer com que a dor que o meu coração sentia parasse.
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