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Capítulo 31 - Queda

por Jessie Bell, em 16.06.11

Acordei com a minha cabeça enroscada no seu peito. O seu braço rodeava o meu corpo, tal como o meu rodeava o seu.


Aquela imagem, por mais confortável e amorosa que parecesse, aterrorizou-me. Pelo menos tinha dormido alguma coisa naquela noite e isso deixou-me num melhor humor.


Olhei para o seu rosto e nele vi estampado um sorriso, algo que não lhe via há muito tempo.


Após alguns minutos também ele abriu os olhos.


- Não olhes assim para mim. Tu é que me agarraste, lapa.


Revirei-lhe os olhos e levantei-me da cama, sem proferir uma palavra.


 


O resto da semana passou-se calmamente, porém os exames estavam à porta e isso deixava-me os nervos em franja.


Os primeiros eram os de canto, que correram relativamente bem. Seguiram-se os de representação e, no fim, os de dança.


Os exames de dança dividiam-se em quatro fases. A primeira era a de ballet, técnico, a segunda de pa de deux, que faria com Michael, a terceira era o solo de contemporânea e a quarta era o dueto de contemporânea, que também faria com Michael. Estes exames estendiam-se numa semana. Se não passasse-mos a primeira fase, não íamos à segunda e por aí fora. A pressão estava a acumular-se. 


 


Entrei na sala de ballet, para a primeira fase, já vestida e com as minhas pontas, na mão. Estava pronta para me ir sentar ao pé de Jessica, quando Kate me abordou.


- Preciso de falar contigo.


- Tens cinco minutos – disse rispidamente. Só olhar para a sua cara dava-me vómitos.


- É sobre o Parker…


- Acabaste de perder o teu tempo de antena. Lamento. – Não lamentava.


- Dalillah, ouve-me.


- Eu não quero ouvir-te.


- Mas vais! O que aconteceu entre mim e o Parker, não foi nada. Eu não estou a dizer que não significou nada, porque não havia nada para significar. Eu sei que me odeias, mas não  o odeias a  ele. Ele ama-te Taylor. Não o percas, como eu o perdi.


- Ana Dalillah Pereira da Rocha Vanbeveroun – disse a minha professora de ballet, pronunciando todos os meus nomes incorrectamente, com um sotaque russo ininteligível, - o seu exame vai começar.


Dirigi-me ao centro da sala e comecei a executar os movimentos pedidos. Estava a correr tudo muito bem, até chegar a final pirouette from grand pliê. Sabia que a conseguia fazer. Já a tinha feito, por muito difícil que fosse. E tinha conseguido fazê-la, se não me tivesse esquecido de pôr magnésio, se o meu pé, no momento em que se pôs em pontas, não tivesse escorregado, levando-me a cair no chão.


De repente ouvi um estalido, seguido de uma dor latejante que provinha do meu pé. Tinha demasiado medo, para olhar para ele. Comecei a arfar, de olhos fechados, sentindo as lágrimas a caírem-me sobre o rosto suado. Conseguia sentir os olhos de toda a gente, cravados em mim, enquanto eu estava ali, sentada, imóvel, num tempo inexplicavelmente parado.


- Dalillah, estás bem? – Era a voz de Michael, que estava de cócoras, ao meu lado, pondo umna mão suavemente no meu ombro.


Olhei para ele, sem o ver e depois, a grande custo, olhei para o meu pé. A início não vi nada, um leve inchaço, porém, quando arranquei a ponta do meu pé direito, ele começou a inchar, e a inchar, ganhando uma cor avermelhada.


Michael levou-me ao hospital e ficou na sala de espera, juntamente com a minha professora de ballet e o meu professor de dança. Quando cheguei às urgências, deram-me um analgésico para as dores e levaram-me para um quarto, onde esperava pelo médico.  


Finalmente, uma médica de meia-idade entrou, cumprimentando-me em seguida. Perguntou-me o que se tinha passado e eu respondi-lhe. Observou o meu pá, que estava a ficar cada vez melhor.


- Dalillah, não é? Você rompeu o tendão que liga o pé ao tornozelo.


- O que é que se pode fazer? – Perguntei


- Bem, vamos pôr uma tala, ligar o pé, arranjar-lhe umas muletas e mandá-la para casa, não há muito que se possa fazer. O seu pé precisa de tempo para curar.


- Vou poder voltar a dançar? – Era tudo o que eu queria saber. Nada mais interessava. Eu tinha de voltar a dançar.


- Se o pé sarar em condições. Mas mesmo assim, não prometo nada. Quando se rompe um tendão, grande parte dele morre, para o que resta se fundir com o novo, se ele morrer totalmente, o novo tendão não vai conseguir formar-se totalmente. O que tornaria dançar… impossível. Mas não vamos esperar pelo pior.


Saí do hospital o mais depressa que consegui.


Seis semanas. Seis semanas sem dançar, sem aulas de dança. Seis semanas parada. E se fossem mais do que seis semanas, e se fosse o resto da minha vida. Eu não ia conseguir. Sentia-me a desfalecer.


Ter a capacidade de dançar era o que me definia. Era por isso que as pessoas sabiam quem eu era. Se eu não o pudesse fazer, quem era eu?


Entrei no meu quarto, com a luz da lua. Deitei-me ali, deixando-me imóvel, inanimada, até ele entrar.


- Lillah, eu ouvi o que se passou, estás bem? – Perguntou, sentando-se ao meu lado e afagando-me o cabelo.


- Sai! Já!


- Não! Pára de me mandar sair da tua vida! Eu recuso-me a fazê-lo. Não percebes que eu te amo?


- Sabes que mais? Esquece. Tenho algo melhor para fazer contigo.


Agarrei o seu pescoço com os meus braços e puxei-o para mim, beijando-o ferozmente. Ele respondeu ao beijo, cautelosamente, colocando as suas mãos no meu rosto. Passei os meus braços para as suas costas, tentando arrancar a camisola, que lhe cobria o corpo. Não consegui. Ele afastou-me do seu corpo de modo a que o fitasse. O seu rosto desenhava uma expressão de pura tristeza.


- Nem penses. – Disse rispidamente.


- Não me querias? Não me querias a mim? Então, pronto. Deixa-me entregar-me a ti.


- Não dessa maneira. Eu não o vou fazer.


- Pensava que me amavas – disse tristemente, tentando fazê-lo sentir culpado.


- E amo e é por isso que não o vou fazer, pois caso o fizesse, quando acordasses amanhã sentirias te culpada e eu não quero isso.


Suspirei e encostei-me ao seu corpo.


- Isto quer dizer que estou perdoado? – Perguntou, abraçando-me contra o seu corpo.


- O que é que tu achas? – Disse, beijando-o, em seguida.


- Eu acho que se isso não significar que me perdoas, tu é que vais ter problemas.


Durante o resto da noite, contei-lhe tudo, sem poupar pormenores e ele ouviu. Ouviu tudo sem dizer nada, acenando e assegurando-me que tudo ia ficar bem. E, ali, por um momento apenas, pensei que realmente tudo ficasse bem.

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publicado às 11:08


9 comentários

De copodeleite a 16.06.2011 às 11:43

Obrigada pelo elogio. Acredita que se fosse uma história inventada não terminava desta forma o texto. Não gosto de finais tristes xD
Neste momento a me mais ouço é "Shine on" mas tenho variadíssimas no meu ipod e que adoro.
beijo

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