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Capítulo 18 - Viagem (1ª parte)

por Jessie Bell, em 09.05.11

 



 


 


Acordei com Parker a brincar com uma madeixa do meu cabelo. Abri os olhos: primeiro um, depois o outro e fitei-o. Ele era incrivelmente belo.


- Desculpa, não te queria acordar – murmurou.


- Não há problema. Que horas são?


- Não sei se te diga… Tenho medo que voltes a sentir a necessidade de me bater. – Revirei os olhos e voltei a colocar-lhe a mesma questão. – Oito e meia. Mas só tens aulas às onze, não é?


- Sim, mas vou ensaiar às nove e meia. E tu não fazes nada?


- Hoje é o meu dia de descanso e – estendeu-me um caderno velho de capa cinzenta – estou a trabalhar num monólogo. – Peguei no caderno e li umas linhas, a verdade é que aquilo estava muito bom.


- Com que então tu trabalhas.


- Não… É tudo fachada. Se queres que seja sincero, isto é tudo copy paste da Wikipedia. E não o faço só com os monólogos. Todas as músicas, peças, textos, tudo o que eu escrevi… tudo isso é plágio. Nem sei como é que nunca ninguém reparou…


- A sério?! Não sabia que havia monólogos na Wikipedia…


- É claro que há. Só que estão todos na Wikipedia da minha cabeça.


- Porque raio é que estamos a falar na Wikipedia?


- Porque tu achas que eu não trabalho.


- Feri os teus sentimentos?


- Sim! É claro que sim!


- Desculpa - disse sobressaltada.


 -Dalillah, estou a brincar… Eu não me ofendo com tão pouco.


- Ainda bem, mas agora tenho de ir embora.


- Se eu te deixar… Agora tens de te redimir.


- Redimo-me mais logo, prometo – beijei-o na testa, – mas agora tenho de ir. Já agora, quando é que vamos para Houston?


- Partimos na sexta-feira.


- Vamos de avião, certo?


- Conduzo assim tão mal?


- São dez horas de viajem.


- Eu sei, por isso é que vamos de noite.


- O Mike vem connosco?


- Não ele vai com o resto da minha família.


- Porquê?


- Querias que ele viesse connosco?


- Não.


- Então já tens a tua resposta.


Sorri-lhe e, após me ter preparado saí do apartamento. Andei até à paragem do autocarro e quando cheguei vi Mike.


- Olá – disse-me, quando me viu.


- Olá. Porque é que nunca te vi a andar de autocarro?


- Costumo ir a correr.


- São 10 kilómetros.


- Eu sei. São quarenta minutos.


- Porque é que não foste hoje?


- Vai chover – disse olhando para as nuvens cinzentas que cobriam o céu. – Soube que vens connosco a Houston.


Senti o sangue a subir-me à cara e apeteceu-me desaparecer dali. Como não o conseguia fazer, apenas assenti com a cabeça.


 - Não pareces muito entusiasmada.


- E não estou.


- Eu prometo que a minha família não morde. Só eu. – Revirei os olhos. – A sério… Eles conseguem ser simpáticos, às vezes.


- É sempre um conforto falar contigo Michael.


- Estou a falar a sério. Já pensaste que isto pode ser uma coisa boa?


- Explica-te – pedi.


- Significa que o Parker gosta mesmo de ti. Taylor isto é a sério. Ele nunca levou ninguém a conhecer a nossa família. Ele gosta de ti e quer que conheças a nossa família. Por isso não vejas isto como uma coisa má.


- Obrigada – acabei por dizer.


- De nada.


 


A semana estava a decorrer normalmente e os exames estavam a correr bem. Estava estranhamente reconfortada com aquilo que Mike me havia dito. Por outro lado, tinha medo que as coisas começassem a ficar sérias demais. Estavam? A resposta era definitivamente um sim. Porém, sempre que pensava nisso, o medo não me profanava o corpo e isso agradava-me, fazia-me sentir confiante.


Conseguir falar da viajem aos meus pais não foi muito complicado. Disse que ia a Houston com os amigos e, acho que devido ao facto de estarem ainda demasiado preocupados com Mariana, não prestaram muita atenção e assentiram.


Sexta-feira chegou e com ela vieram as borboletas no estômago. De qualquer modo, digerias e preparei a mala para a minha semana em Houstoun.


Desci as escadas em direcção ao jipe, onde Parker me esperava. Aí, pegou-me na mala e colocou-a na parte de trás do veículo, onde a dele já se encontrava.


- Vamos? – Perguntou com um sorriso aberto.


- Claro. Isto deixa-te mesmo feliz, não deixa? – Parker voltou a sorrir-me e entrámos no carro.


- Tu não vais conduzir dez horas seguidas, pois não?


- É claro que não, vou parar meia hora quando fizer as primeiras quatro de viajem e depois paro mais meia hora quando completarmos oito.


- Tu já alguma vez fizeste esta viajem assim?


- Já… Confia em mim. Só te peço que não adormeças, porque se não eu também vou adormecer.


- Então o que é que vamos fazer para nos manter acordados?


- Falar.


- Conta-me tudo sobre a tua família – acabei por dizer depois de uns minutos de silêncio.


- Então… Somos seis. O meu pai que tem o mesmo nome que eu.


- Porquê?


- Porque eu sou o filho mais velho e eu herdei o nome do meu pai, que o herdou do meu avô e por aí fora. De qualquer modo, ele tem 48 anos e é dono de uma cadeia de lojas de móveis, na Irlanda, por isso ele costuma viajar de cá para lá e raramente o vemos. A minha mãe era bailarina, mas quando eu e os meus irmãos nascemos ela ficou em casa connosco. Agora que já somos todos mais crescidinhos ela tem um estúdio de dança em Nova Iorque. Chama-se Claire e tem a mesma idade do meu pai. Bem o Mike… Eu não te vou falar do Mike. A minha irmã chama-se Louise e tem 17 anos e quer ser estilista, tem muito jeito. E depois há o meu irmão mais novo que se chama Alex, e tem 16 anos. Ele também dança.


- Também tenho um cão que se chama Alex.


- Aposto que é mais querido que o meu irmão – disse rindo-se. – Agora fala tu.


- Do que é que queres que eu fale.


- Fala-me do teu país.


- O que é que tu sabes de Portugal? Sabes que não é uma colónia de Espanha, certo?


- Numa escala de um a dez, quão burro é que achas que eu sou?


- Não respondeste à minha pergunta…


- Nem tu à minha.


- É claro que não te acho burro Parker!


- Parece…


- Mas não acho, de todo. Acho-te inteligente e talentoso. Demasiado talentoso…


- Demasiado talentoso? – Perguntou levantando uma sobrancelha.


- Sim… Parker porque é que estás na P.A.? Tu podias ter tudo. A fama, o sucesso num abrir e fechar de olhos. Era entrares numa discográfica cantares uma única nota e eles contratavam-te. Ires a uma agência de moda, piscares um olho e tinha um contracto. Se fizesses um dos teus monólogos nalgum casting, tinhas todos os papeis que quiseste. Porque é que escolheste o caminho difícil?


- Porque eu consigo fazer melhor e tenho plena consciência disso. Das minhas falhas. Eu sei que parece que eu não me importo com nada disto. Que ando aqui a passear e que não quero fazer nada da minha vida. Mas isso não é, de todo, verdade. Eu importo-me e sei aquilo que faço e aquilo que tenho de fazer. Sempre que faço asneira sei que as fiz, só não fico por aí a lamuriar-me. Tudo aquilo que eu escrevo, que eu canto, é algo que sai de mim. Por isso é que não me fecho num quarto a estudar. Por alguma razão sei sempre o que fazer, o problema é que nem sempre o que faço sai bem e depois acontecem desgraças. Lillah, eu não sou preguiçoso, não ando por aí à espera que as coisas me caiam do céu. Até porque já caíram e eu não as aceitei. A verdade é que sempre escolhi o caminho mais tortuoso e, sendo que desta vez, esse caminho me levou a ti, estou feliz com a minha escolha.


Olhei para ele. Era maravilhoso, tudo o que ele fazia, dizia, saia-lhe do coração e nada me agradava mais do que isso


- Vamos jogar às vinte perguntas. Pode ser? – Perguntou após vários minutos de um silêncio desconfortável.


 


 


Tive de mudar a votação, por causa da cor por isso voltem a votar please :) Obrigada pelos comentários 

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publicado às 19:23


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