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- Francisca – disse quando ouvi a sua voz.
- Dalillah! – Exclamou, com um sorriso na voz. – Vou passar o telemóvel a uma pessoa.
A voz da pessoa que ouvi do outro lado da linha era fraca e doente, porém reconhecia-a perfeitamente. Era a minha voz. Era a voz de Mariana.
- Mariana! – Disse num grito de felicidade.
- Olá.
- Estás viva! – Exclamei.
- Não?! A sério? E eu a pensar que te estava a mandar uma mensagem do além. – disse num tom sarcástico.
- Não sejas idiota.
- Também tinha saudades tuas maninha.
- Quando é que acordaste e, porque é que ainda não me tinham ligado?
- Dali! Acalma-te, por amor a Deus! Estou acordada a uma hora. Íamos-te ligar agora.
- Eu estou calma! Fala. Porque é que não acordaste depois da cirurgia – disse com a voz a esmorecer.
- Eu fiz uma reacção alérgica à anestesia…
- Mas, e o transplante, resultou?
- É claro que resultou. Agora estou perfeitamente saudável.
- Não sabes o quão feliz isso me deixa.
- Faço uma ideia. A nossa família, desde que souberam que acordei, andam aqui a rondarem como moscas. Acho que nunca mais me vão deixar dormir.
- Não sejas assim Mariana. Estávamos preocupados contigo.
- Eu sei. E fiquei muito feliz quando soube que tinhas voltado para Nova Iorque.
Fiquei calada durante uns minutos. A minha volta para Nova Iorque, naquela altura, não tinha sido um acto de coragem, mas sim um acto de pura cobardia.
A chamada terminou rapidamente, porque Mariana tinha de fazer análises. De qualquer maneira, não demoraria muito até ela sair do hospital. E nada me deixava mais feliz.
Estendi-me na cama e espreguicei-me de felicidade. Voltei a pegar no telemóvel e marquei o número de Parker. Ele atendeu segundos depois.
- Ela acordou! – Guinchei. – Parker! Ela acordou!
- Boa Lillah! – O seu tom era de pura felicidade e isso ainda me deixava mais feliz.
- Estou tão feliz, Parker.
- Eu também estou muito feliz.
De repente, ouvi a campainha do apartamento soar.
- Está alguém à porta. Espera, que eu vou abrir.
- Eu espero.
Abri a porta e Parker estava ali.
- Esqueci-me das chaves, desculpa.
Puxei-o para mim e beijei-o. Envolvi o seu pescoço com os meus braços, conduzindo-o até ao meu quarto. Sabia exactamente o que queria fazer com ele, quando lhe tirei a t-shirt que usava.
Porém ele impediu de levar a minha avante. Descolou os seus lábios dos meus, afastou-me do seu tronco desnudado e olhou-me com os seus perfeitos olhos cinzentos.
- Por muito que queira fazer aquilo que tu me estás a propor, que tal irmos jantar primeiro – Revirei os olhos, sem dizer uma palavra, e estendi-lhe a t-shirt.
- Estás assim tão relutante ao facto de fazeres amor comigo?
- Muito pelo contrário – disse olhando-me de cima a baixo. – Mas, sinceramente, estou com fome.
- Vamos – disse num suspiro. – És um desmancha-prazeres Parker Halle…
- E esse é apenas um dos meus muitos encantos. – Disse brincando com o meu cabelo. – Temos de nos despachar, tenho reservas para as oito. Vou trocar de roupa e tu faz o mesmo.
- Onde é que vamos?
- A um sítio novo que abriu na cidade. Despacha-te – e deu-me um beijo no cimo da cabeça.
Saiu do quarto deixando-me sozinha com o meu roupeiro.
Acabei por vestir um vestido justo, cor de esmeralda, que me dava pelo joelho. Deixei o cabelo solto e coloquei o meu colar de ouro, com uma pequena esmeralda, que os meus pais me tinham dado quando fiz dezoito anos. Maquiei-me e, assim que acabei, Parker bateu à porta do meu quarto.
Quando a abri, olhou-me de cima a baixo, com a boca aberta.
- Vamos?
- Agora não sei – disse pousando os braços na minha cintura. – Tenho medo que te levem, caso desvie o olhar de ti – e sorriu.
- Roubarem-me. E tu? Não me protegias, não?
- É claro que protejo. Mas então fica ao pé de mim, está bem? Só pelo sim, pelo não. – Ri-me.
- Vá, vamos embora. Já são sete e meia e ainda temos de chegar a Nova Iorque.
O restaurante era muito moderno e a comida era surpreendentemente boa. Comemos massa com queijo e algo indecifrável.
- Lillah, o que é que vais fazer no dia de acção de graças?
- Vou ficar em casa. Sou portuguesa, não celebramos o dia de acção de graças.
- Mas sabes que vamos estar de férias essa semana.
- Eu sei. Mas, mesmo assim, não vou a Portugal, para estar lá uma semana. Além de que vou lá no Natal.
- Ly, vens comigo a Houston?
- O que é que tu vais fazer a Houston?
- A minha mãe nasceu em Houston, por isso os meus avós vivem e nós passamos sempre o dia de Acção de graças com eles. Além de que, quando eu vim da Irlanda, vivi dois anos em Houston, antes de nos mudarmos para cá.
- Parker…
- Por favor… - disse com uma suplica nos olhos. – Não vais passar uma semana sozinha, sem nada para fazer.
- Park… – lamuriei.
- Por favor.
- Como é que eu explico isto aos meus pais?
- Não lhes digas.
- Sim, pois. Não lhes digo que vou para outro estado, durante uma semana.
- Vá lá! Ouvi dizer que vai estar bom tempo…
- Porque é que isto é tão importante para ti?
- Primeiro, porque não quero que fiques aqui sozinha. Segundo, porque quero apresentar-te à minha família.
- Como é que achas que isso é um bom argumento?
- Tens assim tanto medo da minha família?
- Tenho.
- Por favor. Suplico-te! Vem.
- Quanto é que me pagas?
- Quanto é que queres?
- Estou a brincar Parker.
- Mas eu estou a falar a sério. Não aceitas subornos?
- Não desse tipo, amor. Se me pagares o que deves, depois logo vemos.
- E se fizermos ao contrário? Tu dizes que sim e eu pago-te a minha dívida.
- Está bem.
- Está bem. Sim, eu vou. – Ele esboçou-me um sorriso de orelha a orelha e, cobriu a minha mão, que se encontrava pousada na mesa, com a dele. – Como é que consegues levar sempre a tua avante?
- Porque eu sou fantástico, Grá.
Pouco tempo depois chegámos a casa e, finalmente, Parker pôde pagar aquilo que me devia.
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