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Capítulo 15 - Recuperação psíquica

por Jessie Bell, em 03.05.11

 



 


 


Enquanto a sua boca saciava a dor que latejava dentro do meu peito, a minha mente alheou-se num lugar muito mais agradável, onde a dor era deixada para trás e onde eu podia respirar fundo outra vez. Porém, sempre que os seus lábios se separavam dos meus, a dor voltava e eu voltava à realidade.


Parker parou e olhou para mim. Com as suas mãos rudes, pegou na minha cara e limpou as lágrimas que por elas escorriam.


- Não queres falar pois não? – Perguntou num tom que misturava melancolia com bondade. Eu abanei a cabeça – Então não falamos. – Segurou o meu corpo contra o dele e assim ficámos durante muito tempo. Fiquei colada a ele, enquanto me afagava o cabelo e cantava baixinho para mim. Acabei por adormecer. Ali no parque de estacionamento do aeroporto.


Quando acordei estávamos no mesmo sítio. Exactamente na mesma posição, como se a noite não tivesse passado. Olhei para ele e Parker fez o mesmo. Sorri-lhe, já não sorria há muito tempo… E de repente a sua cara iluminou-se com um sorriso de orelha a orelha.


- Bom dia – disse.


- Bom dia. Dalillah…


- Eu sei, temos de ir. – Ele voltou a sorrir. – Queres que te conte o que é que aconteceu?


- Apenas se me quiseres contar Ly – e apertou-me mais nos seus braços.


Respirei fundo várias vezes e por fim disse baixinho.


- A minha irmã não acordou. Parker eu… eu acho que ela vai morrer. – Senti as lágrimas a subirem-me aos olhos novamente, mas contive-me. Parker não disse nada. Nem uma única palavra. Não olhou para mim. Limitou-se a apertar-me contra o seu peito e a beijar a cabeça. Pois percebia exactamente o que eu sentia. A dor. A tristeza. Tudo. Por tudo isto já ele tinha passado.


- Parker?


- Diz amor.


- Quero ir dançar. – Ele assentiu e conduziu em direcção à P.A.. Durante a viagem não proferiu uma única palavra. Nem se quer olhou para mim. Talvez por compreender demasiado bem a minha dor. Talvez, por isso, não a quisesse voltar a experienciar.


Fui. Dancei. E, às três da tarde, voltámos para casa. Não houve perguntas, assim, deduzi que Parker os tivesse avisado e isso agradava-me. Deambulei pela casa durante o resto do dia. E à noite, com medo de gritar, tentei não dormir. Porém o meu corpo ansiava por uma pausa e acabei por adormecer.


Eram duas da manhã quando comecei a gritar ofegante. De repente, desprovida de qualquer aviso, senti uma mão a tapar-me a boca, mas não num gesto bruto. Foi algo familiar. Era Parker. Estava de tronco nu. Por momentos ainda pensei que estava a sonha, porém, os seus olhos revelavam demasiada tristeza para pertencerem a um sonho.


Deitou-se ao meu lado, sem dizer uma palavra, e apertou-me, tal como fizera no jipe.


- Desculpa – proferi.


- Não há problema. Não te preocupes.


- Pára! Por favor, Parker pára com isso.


- Paro com o quê?


- Com isso. Com esse tom. Com essa sensação de sofrimento que estás a ter por mim. Eu já estou a sofrer o suficiente sozinha. Desculpa se isto te faz lembrar de maus momentos a ti também. Mas por favor. Eu voltei para que algo na minha vida voltasse ao normal. Eu fui covarde e voltei. Voltei porque não conseguia aguentar a dor. Por isso faz-me esquecer isto. Torna-me feliz novamente. – Parker sorriu e beijou-me e depois afastou-me outra vez do seu corpo quente.


- Bem, se queres que as coisas voltem ao normal… deduzo que me devia embora.


- Ahah – disse num tom sarcástico. – Nem penses nisso. Já agora podes-me dizer qual é o teu problema em usar camisolas?


- Inebria-te assim tanto a minha nudez parcial, Dalillah?


- Um bocadinho… ´


- Bem se preferires também posso ir vestir uma camisola para dormir aqui. Apesar de não o fazer desde os meus nove anos.


- Acho que, para a tua e para a minha saúde, é melhor não. – Ri-me. Soube-me tão bem rir.


Comecei a brincar com a sua mão. Até encontrar uma pulseira, posta no seu pulso direito, na qual estava gravada: “ New York Central Hospital. Parker Halle Doente Epiléptico. Ligar –      243-555-2342”


-O que é que é isto.


- Ãnh? – Perguntou distraído. Olhou para o pulso que eu agarrava – Ah. Isso é uma pulseira só para o caso de eu ter um ataque de epilepsia e as pessoas saberem para onde ligar.


- Espera aí! Tu és o quê?


- Lillah, tenho epilepsia. Não se morre por causa disso. Só se toma muitos, muitos comprimidos.


- Estás a gozar comigo? Porque é que nunca me disseste nada.


- Porque nunca perguntaste e porque não gosto de falar disso. Vais-me deixar porque o meu cérebro é deficiente.


- Que o teu cérebro era deficiente já eu sabia, amor. É por isso que gosto tanto de ti. – E sorri-lhe. Ao que ele respondeu com um esgar, que rapidamente se transformou num sorriso rasgado. Num sorriso à Parker Halle.


Acabámos por adormecer. A partir desse dia, Parker passou a dormir comigo, na minha cama, ao meu lado. Acordava-me sempre que gritava, beijava-me e depois voltávamos ambos a adormecer. 


 


Por favor continuem a comentar... Pergunto-vos se preferem que faça mais capítulos mais pequenos ou menos mas maiores. Acho que vou variar... x'D

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publicado às 22:02


1 comentário

De Rita Sá a 11.05.2011 às 20:09

Posso fazer um comentário construtivo à história nó?

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